sexta-feira, 24 de abril de 2015

Exames laboratoriais

Elizangela De Bona

Saiba o que é e o que não é permitido antes de realizar exames 

Posso colher urina em casa? Posso beber água? Tenho que estar em jejum? Posso fumar? Afinal, o que é permitido e o que não é? A fim de sanar estas e outras dúvidas, a revista Meu SUL conversou com a farmacêutica e bioquímica Arielle Fernandes Della Giustina da Silva. Confira e tire suas dúvidas:

O jejum é obrigatório?

De acordo com Arielle, a maior parte dos exames deve ser realizado com um jejum mínimo de 2, 4, 8, 12 e até 14 horas. “Alguns exames podem ser feitos sem jejum, como o hemograma e o coagulograma, por exemplo, pois são pedidos com urgência pelo médico. Fora isso, deve-se respeitar um jejum mínimo de 2 horas após a ingestão de alimentos”.

Tem diferença o horário da realização do exame?

Para alguns exames têm diferença, por isso, o ideal é seguir a recomendação médica. A dosagem de cortisol é um dos exames que sobre alteração. “Esse hormônio tem vários picos, que variam de acordo com o horário. Se você dosar seu cortisol de manhã e a tarde, o resultado não será o mesmo”, explica a bioquímica.

A menstruação interfere?

Em exames de sangue o fato de a mulher estar menstruada, geralmente, não interfere. Porém, em alguns casos, como no exame de urina, pode interferir sim. Por isso, é importante que a paciente avise ao laboratório que está fazendo a coleta menstruada.

Pode fumar?

O ideal é não fumar no dia do exame, já que em exames como o de agregação plaquetária e o de curva glicêmica, o uso do cigarro pode interferir.

Água quebra o jejum?

Não. A água pode ser consumida em pequenas quantidades, porém é bom evitar excessos para que exames como o de urina não sejam prejudicados.

Esforço físico prejudica os resultados?

“Normalmente não, já que depois de 12 horas do exercício o organismo já se recompôs. Mas se você não faz exercício diariamente, ou seja, se seu corpo não está acostumado com a atividade física, não deve ser feito no dia que antecede o exame”, orienta Arielle.

Remédios podem ser utilizados normalmente as vésperas de um exame?

Os remédios devem ser usados normalmente, a não ser que o seu médico suspenda o uso antes dos exames.

Estar resfriado, gripado ou com febre interfere?

Alguns exames são solicitados justamente para poder, junto com os sinais e sintomas, descobrir o motivo da febre e orientar no tratamento. Já os exames de rotina não devem ser realizados fora das condições normais de saúde.

A ingestão de bebidas alcoólicas altera o resultado?

Sim. Principalmente os exames de triglicerídeos, colesterol e gama GT. O recomendado é que o paciente fique , pelo menos, três dias sem ingerir nenhum tipo de bebida alcoólica.

Há algum alimento específico que pode alterar exames?

Sim. O churrasco, com bastante gordura, no dia anterior ao exame pode influenciar na dosagem de triglicerídeos. “Esse alimento vai causar uma elevação bem considerável do exame, e se o médico não for avisado do acontecido, pode indicar o uso de algum medicamento sem necessidade”, afirma.

Há algum exame que necessite de uma dieta específica?

Sim. Um exemplo é o exame de pesquisa de sangue oculto nas fezes. Para realizar este exame, o paciente deve seguir uma dieta de 72 horas sem ingestão de carnes, beterrabas e frutas cítricas, além de evitar alguns medicamentos, como os que contêm ferro. Os pacientes que precisam realizar este exame também devem ter cuidado na hora de escovar os dentes para que não haja sangramento das gengivas. “Se o paciente fizer a ingestão de alguns desses alimentos pode haver uma reação na hora do exame com os reagentes utilizados, o que pode gerar um resultado falso positivo, ou seja, vai parecer que o paciente está perdendo sangue nas fezes, quando, na verdade, ele apenas não seguiu a dieta corretamente”, explica.

A urina tem que ser a primeira da manhã em todos os casos?

Não. Só há essa necessidade se o médico pedir. Se não for o caso, pode ser colhida a qualquer hora do dia, desde que seja respeitado o período de, pelo menos, duas horas sem urinar. Vale ressaltar que a coleta deve ser feita em um frasco apropriado e estéril fornecido pelo laboratório.

Posso colher a urina em casa?

O ideal é que a coleta seja feita no laboratório. Caso não haja possibilidade, pode ser colhida em casa, porém, para que não haja alteração nos resultados,  deve ser levada ao laboratório em, no máximo, 10 minutos.

Por que o primeiro jato de urina não deve ser colhido?

O primeiro jato de urina traz células e secreções que podem estar presentes na uretra, principalmente se houver um processo inflamatório ou infeccioso na mesma. Se o objetivo é investigar uma infecção urinária, esse primeiro jato deve ser desprezado para que não haja contaminação do material.

Importante!

De acordo com a farmacêutica e bioquímica Arielle Fernandes Della Giustina da Silva, é importante que as pessoas questionem o médico e também os profissionais do laboratório. Todas as dúvidas devem ser sanadas. “Estar bem instruído é muito importante para que os exames informem realmente o estado de saúde do paciente, sem nenhuma interferência”, salienta.

Matéria publicada em dezembro de 2014, na revista Meu SUL.


terça-feira, 21 de abril de 2015

Meia-entrada: afinal, quem tem direito?

Elizangela De Bona

A fim de facilitar o acesso à cultura e ao esporte e influenciar a formação educacional e social dos jovens, o direito à meia-entrada foi criado. De acordo com a advogada Cleimar Della Giustina Morgan Ricken, a Lei no 12.933/2013 tem validade em todo o território brasileiro. “Os estados federados podem promulgar outras leis que a complementem, mas devem tomar o cuidado de não violar a intenção da lei federal, o que seria inconstitucional e ilegal”, explica.

Quem direito?

A Lei garante o benefício a estudantes, idosos, pessoas com deficiência e seus acompanhantes, quando necessário, jovens de 15 a 29 anos, comprovadamente carentes e inscritos no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) e cuja renda familiar mensal seja de até dois salários mínimo.

Os estabelecimentos são obrigados a conceder o benefício?

De acordo com a legislação, todos os estabelecimentos, sejam eles públicos ou particulares, devem conceder o benefício. Conforme Cleimar, 40% do total dos ingressos disponíveis para o evento devem ser usados para este fim.

Caso tenha o seu direito negado, o certo é adquirir o ingresso com valor integral e requerer, depois, a devolução da quantia paga a mais em relação aos 50% de desconto através do Procon ou do Poder Judiciário. Para isso, basta apresentar o ingresso e a identificação que garante o desconto.
Cleimar Della Giustina
Morgan Ricken, advogada.

Cabe aos órgãos públicos municipais, estaduais e federais competentes fazerem a fiscalização. “Vale ressaltar que o benefício da meia-entrada não é cumulativo com quaisquer outras promoções e convênios, e também não se aplica ao valor dos serviços adicionais, eventualmente oferecidos em camarotes, áreas e cadeiras especiais”.

Quais documentos garantem a meia-entrada?

Os estudantes devem apresentar a Carteira de Identificação Estudantil (CIE). Já os idosos devem apresentar um documento com foto. Os deficientes e seus acompanhantes devem ter em mãos um documento que comprove tal situação, a menos que a deficiência seja visível. E os jovens entre 15 e 25 anos devem apresentar o comprovante de inscrição no CadÚnico.

Todo estudante tem direito?

Não. Segundo a advogada, a lei não concede o benefício da meia-entrada para alunos de cursos livres, como inglês e informática, mas nada que impede que o estabelecimento de ensino se adeque para conceder o benefício. Oficialmente, só tem direito a concessão o aluno regularmente matriculado em estabelecimentos de ensino de primeiro, segundo e terceiro graus, assim como pós-graduandos.

*Matéria publicada em dezembro de 2014, na revista Meu SUL.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Um país apaixonado por cirurgia plástica

Elizangela De Bona

Brasil é o segundo no ranking mundial de cirurgia plástica com quase 1 milhão de cirurgias por ano. 


1 milhão. Esse é o número aproximado de cirurgias plásticas estéticas realizadas por ano no Brasil, só perde para os Estados Unidos. Porém, o país é o número um do ranking quando se trata de alguns procedimentos como a colocação de prótese no glúteo, o rejuvenescimento vaginal, chamada de cirurgia íntima e a otoplastia, que corrige as “orelhas de abano”. Os dados são da Sociedade Internacional de cirurgia Plástica (ISAPS, na sigla em inglês), de 2011.

De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, José Horácio Aboudib, em entrevista ao G1, o Brasil é pioneiro quando o assunto é cirurgia no bumbum. O número desse procedimento aumentou 367% nos últimos quatro anos, segundo a entidade.

O Brasil também o número um em relação ao aperfeiçoamento de novas técnicas e à qualificação dos profissionais conforme o portal Cirurgia Plástica. A lipoaspiração e o implante de prótese de mama são os procedimentos mais realizados no país. Já na região, a prótese de mamas é primeira colocada, seguida pela lipoaspiração e a mamoplastia segundo o cirurgião plástico Alexandre Alberton.

E se engana quem pensa que cirurgia plástica estética é coisa só de mulher, de acordo com o cirurgião, de 15% a 20% das cirurgias são realizadas em homens. As mais procuradas por eles são a cirurgia de “orelha de abano” e a lipoaspiração.

Quando o assunto são as cirurgias reparadoras, a mais realizada de acordo com o cirurgião é o procedimento para a remoção de tumores de pele, bastante comuns na região devido à intensa exposição ao sol, principalmente dos trabalhadores rurais.


Mas como proceder caso haja interesse de passar pelo procedimento? Como se preparar? Que cuidados tomar antes e depois da cirurgia? Para responder a essas e outras perguntas, a Revista Meu SUL conversou com o cirurgião plástico Alexandre Alberton, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, que tem mais de 20 de experiência no ramo. Acompanhe!

Os tipos de cirurgia plástica

Há dois tipos de cirurgia plástica. A estética e a reparadora. De acordo com o cirurgião Alexandre Alberton, a cirurgia plástica estética tem o objetivo de promover melhorias na aparência. “Pode ser feita para corrigir deformidades de nascimento como as orelhas de abano ou para corrigir mamas flácidas que podem estar dificultando um relacionamento. Ela não atua para corrigir situações que causam alteração da função, mas sim para situações de ordem psicológica", explica.

Rosania Eising Borba.
Foto: Jonas Back/Revista Meu SUL.
A auxiliar de serviços gerais, Rosania Eising Borba, passou por uma cirurgia estética há três meses. Ela realizou o procedimento de redução de mamas. Rosania procurou o médico em virtude de fortes dores nas costas e o médico indicou a cirurgia. Ela afirma que o procedimento aumentou sua autoestima. “Amei o resultado, ficou perfeito. A diferença é muito grande, não sinto mais nenhum desconforto. Estou realizada”.

Já as cirurgias reparadoras, como o próprio nome já diz, servem para reparar algum defeito de nascença, como por exemplo, as “orelhas de abano”. O procedimento também é realizado em casos de acidente, onde as funções do organismo são prejudicadas. Em muitos casos, a cirurgia reparadora antecede uma estética conforme Alberton.

A técnica em radiologia Josimere Bagio voltava, com quatro amigas, de uma festa em Criciúma quando o carro em que ela estava foi atingido por um carro que fazia uma ultrapassagem perigosa. Com o impacto, Josi, como é conhecida, machucou o rosto. A pele da testa e da pálpebra foi arrancada. “Depois de alguns dias no hospital de Tubarão passei pela avaliação de vários médicos e foi decidido que seria feito um enxerto de pele em algumas regiões da lesão”, explica.

Josimere Bagio.
Foto: Jonas Back/Revista Meu SUL.
Desde então já foram três cirurgias. Todas de acordo com ela foram tranquilas e a jovem se diz contente com o resultado apesar de tudo. “Fiz o que pude por enquanto para ‘arrumar’ o estrago. Queria que ficasse como antes, mas já sei que não vou conseguir. De qualquer forma estou contente com o resultado. Estou fazendo sessões de laser para diminuir as cicatrizes também. São processos lentos. Continuo indo regularmente ao cirurgião mesmo depois de três anos. É preciso ter paciência”.

De acordo com o cirurgião plástico Alexandre Alberton, diferente das cirurgias reparadoras, as cirurgias estéticas geralmente são realizadas por vontade do paciente. “Seja por excesso de peso, nariz torto, mamas grandes, é um desejo da pessoa, ela que sente a necessidade de fazer. O médico só precisa ter o bom senso de avaliar se a cirurgia vai trazer o benefício esperado pela pessoa”, explica.

Quero fazer uma cirurgia plástica. Como devo proceder?

Para quem tem interesse em realizar alguma intervenção cirúrgica, deve saber que existe um protocolo a ser seguido. “O Conselho Federal de Medicina juntamente com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica criaram um protocolo informativo e compartilhado em Cirurgia Plástica que visa padronizar os procedimentos e evitar a desinformação dos pacientes. Aliado a esse protocolo, o paciente assina um Termo de Consentimento Informado, no qual ele declara estar ciente sobre as vantagens e desvantagens que decorram da cirurgia a ser realizada", explica o cirurgião.

É preciso ter cuidado também na hora de escolher um profissional. Procurar um profissional especializado que tenha boas referências é fundamental. Outra dica é tirar todas as dúvidas durante a consulta. "É importante também que seja feita uma avaliação do estado de saúde do paciente, pois a cirurgia plástica estética só deve ser realizada se o estado de saúde for bom, o que pode evitar várias complicações durante e após a cirurgia", afirma.

O que perguntar ao cirurgião?

Manter uma comunicação aberta com o profissional é o ideal.  Hoje, são 5 mil cirurgiões plásticos no Brasil. 160 só em Santa Catarina. Para fazer a escolha certa na hora de procurar um profissional e saber o que questionar, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica dá algumas dicas:

·         É membro ativo da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica?
·         Foi treinado especificamente na área de cirurgia plástica?
·         Tem quantos anos de treinamento?
·         Em quais hospitais e clínicas atua?
·         Quantos procedimento desse tipo já realizou?
·         Esta cirurgia é adequada para mim?
·         Como e onde será realizada a cirurgia?
·         De quanto tempo é o período de recuperação? Que tipo de ajuda precisarei?
·         Quais são os riscos e complicações associadas ao procedimento?
·         Como as possíveis complicações serão contornadas?

Quais são os riscos de uma cirurgia plástica?
Alexandre Alberton, cirurgião plástico.
Foto: Jonas Back/Revista Meu SUL.

Segundo o cirurgião Alexandre Alberton, o maior risco sempre é a morte, porém, na classificação de risco cirúrgico, a cirurgia plástica, estatisticamente, é de uma morte para cada 52 mil cirurgias realizadas. “Se compararmos aos riscos do dia a dia o risco é mínimo. Viajar de carro é muito mais perigoso do que fazer uma cirurgia. Há 50 anos a cirurgia tinha muito mais risco, já que não havia a qualidade que se tem hoje em termos de medicação e anestésicos. A cirurgia plástica é uma das mais seguras”, afirma.

Cuidados no pré e pós-operatório

Cuidar da alimentação, evitar o uso de bebidas alcoólicas, evitar fumar e dependendo o tipo de medicação que toma é preciso parar. Um simples AS Infantil, por exemplo, pode causar transtorno, já que a cirurgia sangra mais que o normal. Esses são os cuidados básicos no pré-operatório conforme Alberton. Em alguns casos, segundo o médico, é preciso de alguns cuidados bucais e do uso de cremes hidratantes, mas isso o cirurgião deve explicar durante a consulta. Outra coisa indispensável é, em caso de uso de drogas, avisar o médico. “Essa informação pode salvar uma vida”, destaca Alberton.

No pós-operatório, a recomendação é o repouso, de um a dois meses, dependendo do procedimento. Cuidados específicos devem ser recomendados pelo cirurgião. Em caso de complicações no pós-operatório, a recomendação do especialista é de que o paciente procure a equipe que realizou o procedimento.

E se eu não gostar do resultado?

A cirurgia plástica é um procedimento que visa uma melhora em algum aspecto de alguma parte do corpo do paciente e assim como toda cirurgia está sujeita a complicações, o resultado também está sujeitos a insatisfação. Cabe ao cirurgião explicar o que pode ser feito em cada caso. “Na maioria das vezes em que ocorrem problemas desse tipo é porque não houve uma conversa adequada. O cirurgião precisa mostrar para a pessoa as possibilidades com base na anatomia da pessoa. A cirurgia plástica tem limites, não dá para prometer o que não se pode cumprir. Trabalhar com o psicológico da pessoa nesse sentido é a parte mais difícil”. Por esse motivo, é importante que o paciente tenha tirado todas as dúvidas antes de assinar o termo de compromisso.

Há contra-indicações para a realização de cirurgia plástica?

Pessoas com doenças cardíacas, pulmonares, metabólicas, diabéticos e doentes sistêmicos devem evitar a cirurgia estética. “Se o fim é estético não vale a pena correr o risco”, aconselha Alberton.

Depois de quanto tempo de implante de mamas posso realizar exames?

É preciso esperar no mínimo o tempo de cicatrização, que é de dois a três meses. Antes desse período não é aconselhável pressionar as mamas pois elas ainda estarão inchadas e pressioná-las pode provocar dor, mas se houver necessidade, não há problema.

Implante de mama prejudica o aleitamento?

A cirurgia de implante de mamas, de acordo com o especialista, é realizada atrás da glândula mamária. Ou seja, a glândula cresce na frente da prótese, portanto, não interfere de forma nenhuma no aleitamento, desde que a prótese esteja íntegra.

* Com informações dos sites:

Cirurgia Plástica
www.cirurgiaplastica.org.br

Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica
www.cirurgiaplastica.com.br

*Matéria publicada em junho de 2013, na revista Meu SUL.

*Algumas informações podem estar desatualizadas.

terça-feira, 14 de abril de 2015

Eles também dançam

Elizangela de Bona

Por meio da dança, jovens lutam contra o preconceito e provam que, em meio a sapatilhas, collant e sutileza, também existe masculinidade.

Sapatilha e collant. Acessórios que fazem parte da vida de Maurício de Souza Brillinger, de Araranguá. O estudante, de 20 anos, integrante da Companhia de Dança Núcleo Artístico Brillinger, sempre gostou de dançar e, seguindo os passos da irmã, que já dançava, começou a fazer balé clássico aos 15 anos. "O balé representa uma grande parte da minha vida. É uma arte fenomenal, além da dança em si, ensina postura e disciplina. Não consigo mais me desvincular dessa arte", afirma.
Foto: Maurício de Souza Brillinger
Apesar do crescente número de meninos que optam pelo balé, para Maurício, o preconceito ainda é muito presente. "Não é difícil ouvir piadinhas do tipo, ' ah, balé é coisa de menininha, é coisa de gay'”. Professora de balé, Heloísa Brillinger conta que já presenciou o preconceito com seus alunos. "Uma vez um menino começou a fazer aulas de balé, fez algumas apresentações e um mês depois os pais tiraram porque tinham medo de que o menino se tornasse homossexual", conta.

Mas o preconceito com os homens na dança nem sempre existiu. No início da história do balé, há cerca de 500 anos, os homens faziam os papéis masculinos e femininos, não havendo assim, a necessidade de bailarinas. Nas côrtes francesa e italiana, o papel da mulher na dança era secundário, já que as saias compridas e com armações pesadas dificultavam a participação feminina, sendo que elas, por sua condição física, não tinham condições de realizar saltos ou movimentos que exigissem agilidade com as pernas. Só em 1832, o balé La Syphide colocou uma bailarina em primeiro plano.

Foto: Eder Vieira
Professor de geografia, Eder Vieira da Costa, 23 anos, também integrante do Núcleo Artístico Brillinger, pratica balé desde os 17 anos. O jovem conta que começou a dançar por influencia de amigos, e que apesar do preconceito, não pensa em parar. "É sempre mais fácil falar do que não se conhece e poucas pessoas tem acesso a esse tipo de cultura, por isso ignoro o preconceito. Me dedico totalmente ao balé, independente das coisas que ouço", afirma. 


* Matéria publicada em agosto de 2011, na revista Meu SUL.
* A idade dos entrevistados está desatualizada. 

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Elas também jogam

Elizangela De Bona

Meninas mostram que o preconceito é só mais um adversário a ser driblado

As mulheres estão conquistando cada vez mais espaço, e com o futebol não poderia ser diferente. A modalidade vem crescendo e ganhando destaque. Em Braço do Norte, aproximadamente 70 meninas representam o município por meio do Conselho Municipal de Esportes (CME). As meninas são divididas em cinco categorias: sub 11, sub 14, sub 16, sub 18 e adulto.

De acordo com o técnico da CME, Edenílson Valmor Hebert, o futsal feminino começou por acaso no município. "Em 2005, quando eu dava aula em uma escola do bairro União, tinha quatro meninas que jogavam bem e, como Braço do Norte não tinha time feminino, elas jogavam por Rio Fortuna. Pensei então que se já tinha quatro, com mais uma poderia eu formar um time. Liguei para o diretor de esportes da época e perguntei se poderia inscrever as meninas na Olimpíada Estudantil de Santa Catarina (Olesc) e ele apoiou. Desde então o feminino tem tido destaque nas competições das quais participou", explica.

No começo, as meninas eram selecionadas por meio de indicações. Atualmente a seleção é feita na escolinha de futebol do próprio município. Lia Schlickmann de 17 anos é uma das representantes da cidade. A jovem começou a jogar com 10 anos no moleque bom de bola e afirma que o futebol é a sua paixão. "Não consigo viver sem jogar, o futebol é minha alegria, uma das coisas que mais me faz feliz".
Foto: Lia Schlickmann
Na cidade vizinha, São Ludgero, o futsal feminino iniciou suas atividades em 2008. Segundo o técnico de futsal Luiz Carlos Fracaro, aproximadamente 45 meninas treinam para representar a cidade. As meninas são dividas em duas categorias: sub 13, com 30 meninas e adultas, com 15 atletas. Entre elas está a auxiliar de analista de qualidade Daniela de Araújo, de 21 anos. Daniela conta que joga desde pequena e que o futebol representa muito em sua vida. "Desde que me conheço por gente jogo futebol. É como uma paixão que nunca acaba. Futebol para mim é disciplina, por meio do esporte aprendemos como trabalhar em equipe e aprendemos também a respeitar as pessoas. Se eu tivesse oportunidade gostaria de viver de futebol”.

Conforme Hebert, as meninas demonstram mais dedicação, o que torna o trabalho com o futsal femino mais fácil. "Elas são mais unidas, mais compromissadas e mais dedicadas que os meninos, o que facilita o trabalho. Claro que é preciso ter sensibilidade, mas se eu tivesse que escolher entre o futsal feminino e o masculino, escolheria o feminino", afirma.

Paixão que começa cedo

A paixão pelo futebol começa cedo para algumas meninas. Joice Camilo, de 12 anos, começou a jogar em 2010, e apesar da resistência inicial do pai, pretende continuar. "Me interessei pelo futsal na escola, e entrei na escolinha por indicação de uma amiga. No começo meu pai não queria que eu jogasse, com medo de que eu me machucasse, mas agora ele se acostumou. "Eu mal sabia chutar uma bola quando entrei, acho que já evolui bastante e quero continuar".

Com 10 anos, Isadora Lessa diz que seus pais, que também jogam, sempre a apoiaram, mas que não teria problemas em enfrentar dificuldades. "Gosto muito de jogar e dificuldades sempre tem que enfrentar, seja lá o que você queira fazer, a gente tem que lutar pelo que a gente gosta", afirma.

Fabíola Rinaldi, atualmente com 15 anos, começou a jogar aos 8, e sonha em jogar profissionalmente. "Meus pais me apoiam bastante, admiro muito a Marta e queria muito poder um dia jogar profissionalmente".

Um drible nas adversidades
Apesar do crescimento e de ser cada vez mais comum, ainda há quem acredite que futebol não é coisa de menina. "Eu estava na aula um dia e um professor foi convidar quem tivesse interesse para jogar futebol depois da aula, quando eu disse que queria participar ele ficou me olhando desconfiado, constrangido, acabei desistindo", conta Lia Schlickmann.

"A gente sempre escuta alguém dizendo que futebol não é coisa para meninas, dizendo coisas como 'sai daí mané macho'. Sinto que muitas pessoas têm preconceito. Respeito a opinião das pessoas, mas preconceito é ignorância", afirma Daniela de Araújo.

A atleta de São Ludgero, Sulamita dos Santos Bento, conta que já teve problemas dentro de casa por jogar futsal, o que atualmente não existe mais. "Meu marido não gostava que eu jogasse, ficava chateado quando eu saia para jogar, só que com o tempo ele foi conhecendo e se acostumando com a ideia. Hoje ele é o treinador do time em que jogo, me acompanha sempre, jogo até mais animada", explica.

Para essas meninas, o preconceito é só mais uma barreira a ser ultrapassada. "Existe preconceito sim, claro que muito menos do que antes, mas existe. Espero que isso acabe. Nós, mulheres e amantes do futebol, torcemos por isso", afirma Lia. 

*Matéria publicada em agosto de 2011, na revista Meu SUL.
* Os dados relacionados ao futsal de Braço do Norte e São Ludgero, assim como as idades das atletas citadas estão desatualizados.

terça-feira, 7 de abril de 2015

O que há do outro lado?

Elizangela De Bona


A existência ou não de vida após a morte sempre gera discussão. Há os que acreditam e os que nem cogitam a hipótese. Há também os que preferem nem pensar no assunto. A verdade é que só encontraremos resposta para essa pergunta no dia em que partirmos, mas tentar entender como funcionam as coisas, inclusive a morte, é típico das pessoas.

As religiões, norteadoras de grande parte da sociedade, apontam caminhos, respondem, de acordo com a sua doutrina, a esse, e outros tantos questionamentos. Para onde as pessoas vão depois de morrer? Céu e inferno existem? Há reencarnação? O que dizem as religiões? No que elas acreditam? No que você acredita?

O que dizem as religiões?

De acordo com dados do censo demográfico realizado em 2000 pelo IBGE, 73,8% dos brasileiros se declaram católicos, 15,4% se dizem evangélicos e 1,3% espíritas. 9,5% se dividem entre os que são de outra religião, 2,1%, e os que dizem não ter religião, 7,4%.

A fim de responder alguns, dos muitos questionamentos sobre o tema, a Revista Meu SUL procurou líderes destas, que são as religiões mais conhecidas e seguidas pelas pessoas.

Para onde as pessoas vão depois de morrer? Céu e inferno existem?

De acordo com a igreja católica céu e inferno existem sim. "A bíblia é bem clara, existe um céu e um inferno. Aqueles que levarem uma vida ética, baseada nos princípios merece um prêmio. O que andou pelo caminho do vale da morte também vai receber pelo que semeou", afirma o padre Lenoir Steiner Becker. Segundo o padre, o céu não seria um lugar, seria um estado de espírito, de realização plena, uma morada espiritual junto ao pai eterno.

Para os espíritas, conforme o presidente da União Regional Espírita da 9ª Região de Santa Catarina, Walterney Rus, céu e inferno são vivenciados constantemente. "Quando nossa alma está verdadeiramente em paz, tranquila, com aquela sensação peculiar de dever cumprido, já temos um esboço de céu. Do mesmo modo, quando estamos em situações de dúvidas angustiantes, de dores atrozes, de perdas terríveis, já estamos experimentando o inferno", afirma.

De acordo com o espiritismo, no momento da morte, cada pessoa segue para um determinado grupo. "Pessoas que, encarnadas, são baderneiras, praticantes de crimes, desencarnam e agrupam-se em regiões que nominamos como umbral, onde perambulam errantes, enquanto não caem em si sobre suas condutas, quando então, por força desse arrependimento eficaz são resgatadas e encaminhadas para colônias espirituais, assemelhadas a clínicas de recuperação, casas de repouso, para fins de reestruturação de seus projetos de vida. Da mesma forma, pessoas que dedicaram suas vidas na terra ao exercício do bem, à prática das diretrizes evangélicas, ou mesmo ao amor incondicional à humanidade, ao desencarnarem são recebidas por espíritos afins, que lhes facilitam a transição e as acolhem já em residências específicas, em colônias espirituais", explica.

Conforme o pastor da igreja evangélica, Moisés Brasil Maciel, céu e inferno existem, mas ainda não o vivenciamos. "Dois locais distantes, sem comunicação um com o outro. Dois locais eternos, de sofrimento ou alegria eterna, dois destinos baseados em nossas escolhas de hoje. A forma de vida que escolhemos, em quem e no que cremos, determinará onde passaremos a eternidade. Ainda que para muitos a vida em nosso mundo se assemelhe muito a um inferno, a Bíblia declara a existência de um paraíso, local onde recomeçaremos a vida dentro dos padrões já estabelecidos por Deus, e um lugar de tormento, eternamente distante de Deus".

Existe vida após a morte?

"A vida após a morte se constituí num dos princípios elementares da Doutrina Espírita, doutrina que prega não só crença na vida após a morte, mas principalmente, que a morte é apenas um processo de transição e que a realidade espiritual interage continuamente com a realidade material, sendo perfeitamente natural tal interatividade, como é natural pessoas de países diferentes interagirem sem estarem fisicamente no mesmo lugar", declara Réus.

Para a igreja evangélica, a alma e o espírito, continuam vivos após a morte. "Entendemos que o homem é composto de corpo, alma e espírito, no corpo os órgãos do sentido e organismo em si, na alma, emoções, vontade, razão e intelecto, no espírito consciência e comunhão com Deus. Mesmo que o corpo pereça, a morte física, ainda temos algo de imaterial, a alma e o espírito, que perdurarão após a morte do corpo", afirma o pastor.

De acordo com o padre Lenoir Steiner Becker, após a morte se tem vida plena. "Após a morte partimos para a morada eterna junto a Deus Pai, vivemos uma felicidade plena".

Há reencarnação?

Para os evangélicos não. "Não há como juntar em uma mesma ideia reencarnação e cristianismo. Crer em reencarnação é rejeitar o sacrifício de Cristo, pois se cristo morreu uma única vez por nossos pecados não há como viver, morrer, tornar a viver, morrer, retornar a vida, até que sejamos purificados dos nossos delitos e erros. Não há paralelo entre ser cristão e crer em reencarnação, haveria uma contradição com a própria Bíblia: 'E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez e, depois disto, o juízo, assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação'. (Hebreus 9:27-28). Esta segunda vez, em que Cristo aparecerá, será a sua volta, voltará, pois morreu, e ressuscitou", explica Maciel.

De acordo com os princípios católicos, a reencarnação não existe. "Parto do princípio daquilo que Jesus diz na cruz ao ladrão arrependido, 'hoje mesmo estarás comigo no paraíso'. Ele não prometeu que após o arrependimento ele fosse viver outra vida. Acreditamos na ressurreição. Não acreditamos na reencarnação, acreditamos que Deus nos dá uma chance, e é essa que temos agora. Por isso precisamos nos esforçar nesse tempo para cumprirmos a nossa missão", argumenta Becker.

Já para a doutrina espírita, a reencarnação estrutura os projetos de Deus para a humanidade. "A Doutrina Espírita não só crê na reencarnação como a defende como mola mestra de todo o projeto de Deus para o nosso progresso constante. Sem o princípio da reencarnação, fica muito difícil estruturar a justiça de Deus, posto que uma única vida para nos por à prova, com tanta diversidade de oportunidades e dificuldades seria como o professor que, para um aluno permite consulta à livros e mestres, enquanto que para o outro, além de lhe vedar consultas, ainda o obriga a fazer a prova nu sob chuva e frio intenso, exigindo de ambos a mesma nota. A reencarnação aponta ainda para duas características sem as quais Deus não seria Deus: Misericórdia, traduzida pela renovação de oportunidades para repararmos nossos erros, e, Justiça, traduzida pela íntima relação entre nossas decisões e nossa responsabilidade sobre o resultado dessas decisões. A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória", explica Réus.
  
Sinais que confortam

Para algumas pessoas, a existência de vida após a morte é um fato
 
Foto: Arquivo
Natural de São Paulo, Tatiana Madjarof tinha 23 anos quando perdeu a vida em acidente de carro, no dia 4 de fevereiro de 2006. A estudante de medicina, que sonhava fazer pós-graduação nos Estados Unidos e trabalhar voluntariamente na África, ia à Laguna visitar uma amiga, porém foi surpreendida por um carro, vindo na direção contrária. O carro, que fazia uma ultrapassagem irregular, bateu de frente no carro que Tatiana dirigia e a jovem teve morte instantânea.

Sete meses após a morte de Tatiana, sua mãe, Rosana Madjarof, convidada por sua mãe e uma amiga, foi ao Centro Espírita Aurélio Agostinho, em Minas Gerais. Ao fim da reunião, recebeu das mãos do médium Celso de Almeida Afonso, a primeira carta de sua filha. "A carta era rica em detalhes, coisas que só a Tati poderia saber. Renasci naquele dia, tive certeza de que a minha filha estava viva em outro plano, e aquilo me confortou", afirma Rosana.

Hoje, são 27 cartas psicografadas pelo médium Celso. Segundo Rosana, as 27 cartas trazem conforto não apenas para ela, mas também para outras mães, que não recebem mensagem dos filhos. "Não tenho necessidade de receber mais cartas, porque sei que a minha filha vive, ela está do meu lado, mas faço questão de voltar ao centro e receber novas cartas pelas outras mães. Essas cartas servem de consolo, saber que nossos filhos continuam vivos é algo maravilhoso, por meio das cartas temos a certeza de que se continuarmos caminhando na direção do bem, cumprindo a missão que nos foi confiada, vamos nos encontrar", explica.

Foto: Arquivo
Jivago Echeli Jung, 27 anos, cirurgião dentista, natural de Orleans, perdeu a vida no dia 7 de março de 2007, após bater de frente em outro carro no Km 311 da BR-101, em Laguna. A mãe, Claudete Echeli Jung, também recebeu cartas psicografadas pelo médium Celso, e se diz agraciada. "Recebi duas cartas no mesmo dia, olhava para os lados e via várias pessoas com camisetas de filhos, e eu estava recebendo uma mensagem do meu, me senti imensamente feliz", conta.

Quer conhecer mais a história de Tatiana? Acesse: Saudade e Adeus. Lá você também poderá ler algumas cartas psicografadas, dela e de outras pessoas. O site é administrado pela Rosana Madjarof, mãe da Tatiana.

* Matéria publicada em agosto de 2011, na revista Meu SUL.