terça-feira, 26 de maio de 2015

Parto natural: o primeiro ato de amor

O dia 20 de agosto jamais será esquecido pela enfermeira Caroline Scheuer. As dores vieram pela manhã. Às 12h, contrações fortes e às 17h20min, Kaila veio ao mundo. O parto foi totalmente natural e na água. “Ela veio de forma maravilhosa. Meu marido foi quem a pegou primeiro e logo depois a entregou em meus braços. Fico emocionada só de lembrar. Não há palavras coerentes para descrever esse momento, creio que somente passando para saber. Sei que quando a vi pela primeira vez eu experimentei o que é amor incondicional, foi um momento de alegria e realização extrema”, conta Caroline.

Momento antes do nascimento da Kaila. 
Foto: Carol Dias.
Emoção semelhante foi a da estudante de enfermagem Stacy Gerlach. Por meio de um parto normal de cócoras, deu à luz a Heitor. “Foi maravilhoso. O momento mais lindo da minha vida”. Ambas escolheram dar à luz do modo mais natural possível. Sem intervenções como anestesias ou indução. No parto natural, o médico simplesmente acompanha o parto. O ritmo e o tempo da mulher e do bebê são respeitados. “No parto humanizado a mulher é a protagonista do seu parto. Ela é quem manda, ela é quem faz o parto”, explica a ginecologista e obstetra Roxana Knobel, médica de Caroline e Stacy. Ambas também optaram pelo acompanhamento de uma doula, profissional que acompanha a gestante antes, durante e depois do parto, dando suporte afetivo, físico e emocional.

Heitor nos braços da mamãe Stacy sendo tietado pelo papai Rogério.
Foto: Arquivo pessoal.
Nessa reportagem especial, você vai conhecer os benefícios do parto natural e ainda vai saber como profissionais como a doula podem contribuir para que o momento seja ainda mais inesquecível.

Título 2 - Do “desaparecimento” das parteiras aos altos índices de cesáreas

Foi no início do século passado que o desenvolvimento do parto “industrializado” se tornou evidente. Aos poucos iam saindo as parteiras e iam entrando os médicos. Em 1902, na Grã-Bretanha, a Lei das Parteiras estabeleceu vínculos oficiais entre a profissão da parteira e a profissão médica. Mas os motivos eram econômicos. As parteiras limitavam o volume de negócios para os médicos.

Autor de vários livros e inventor de muitas ferramentas obstetrícias, Joseph De Lee, renomado professor de obstetrícia norte-americano, teve um papel fundamental no desenvolvimento do parto industrializado. Em um artigo intitulado “O uso profilático do fórceps”, feito em 1920, ele recomendou o uso rotineiro do instrumento e a episiotomia - incisão efetuada para ampliar o canal de parto e prevenir que ocorra um rasgamento irregular durante a passagem do bebê - em todos os partos. O tratado De Lee teve tanta influência nos Estados Unidos que na década de 30 a obstetrícia profilática já tinha se tornado norma.

Atualmente, mais da metade dos bebês brasileiros nascem por meio de cesarianas. Índice bem acima do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 15%. No país, 52% dos bebês vêm ao mundo por meio da cirurgia.

Título 3 - O parto natural e os seus benefícios

Roxana Knobel atua como médica há 20 anos e sempre apoiou o parto normal vaginal. O contato com a concepção do parto humanizado se deu há aproximadamente 13 anos. Desde então, a obstetra tem reaprendido a intervir o menos possível nos partos. “Toda intervenção tem um preço, e, geralmente, leva a outras intervenções”, afirma.
“Toda intervenção no processo natural do nascimento deve ter uma boa justificativa, baseada em pesquisas científicas bem feitas”. (Roxana Knobel) 

De acordo com a especialista, no parto humanizado a mulher é a protagonista. “A equipe de assistência está lá para ajudar, apoiar e intervir em caso de necessidade, mas é a mulher quem manda”, explica. Além de dar liberdade à futura mamãe, o parto natural também é mais seguro e diminui a possibilidade de complicações para a mãe e o bebê. Além disso, possibilita o contato imediato da criança com a mãe, o que facilita o vínculo e o aleitamento. Outro benefício é a possibilidade de proximidade do pai durante o parto.

Conforme a obstetra, optar por um parto humanizado é também mais seguro. “Uma cesariana implica em mais riscos para a mãe e para o bebê. Risco de hemorragia, de ficar na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e de usar antibióticos. Optar por um parto humanizado, onde a fisiologia do processo e o tempo são respeitados, é o ideal”.

Título 4 - Quero parto natural, o que faço?


Segundo a obstetra Roxana Knobel, por ser a cesariana um processo mais prático, não são muitos os médicos que se dispõem a realizarem partos humanizados. Deixar de lado o que aprendeu e sempre fez e mudar anos de prática são as causas da dificuldade encontrada por algumas mulheres na hora de encontrar o profissional adequado para o parto que deseja.

O jeito é ter paciência e pesquisar, como fez a estudante de enfermagem Stacy. “Pesquisei muito a respeito. A primeira obstetra que consultei nem me perguntou que tipo de parto eu queria, e quando eu falei sobre parto normal ela se limitou a dizer que era muito cedo para que eu pensasse naquilo. A partir daí comecei a procurar obstetras com baixa taxa de cesáreas, o que é procurar agulha no palheiro”, conta. Ao entrar no blog de sua doula, Stacy encontrou uma referência ao nome de Roxana e após ouvir um comentário de que a médica mais parecia uma parteira, tomou sua decisão.

Segundo Roxana, há restrições quanto ao parto humanizado, mas são poucas, por exemplo, se a placenta estiver na frente do bebê no canal de parto. “A maioria das indicações de cesariana no Brasil não são indicações absolutas e as mulheres poderiam ter parto natural”, afirma. Cordão umbilical enrolado no pescoço também não é motivo para cesárea conforme a especialista.

No parto natural, a mulher fica na posição que considera confortável. A água, de acordo com a obstetra, ajuda a relaxar e diminui a dor, além de ajudar a relaxar o períneo na hora do bebê sair, mas algumas mulheres não querem ou não podem ter o parto na banheira, diante disso, escolhem se preferem de cócoras, ajoelhadas, deitadas ou abraçadas ao marido.


Os pais que optarem por um parto humanizado devem se informar e procurar uma equipe que atue em partos assim perto da sua cidade. “Aconselho as pessoas interessadas a se informarem muito sobre o que desejam e o que podem conseguir. Grupos de apoio ao parto normal e grupos virtuais podem ajudar a encontrar a melhor forma de conseguir um parto humanizado”, orienta a especialista.

Título 5 - As doulas e o seu importante papel

As doulas fornecem um apoio essencial para os casais durante a gestação, no parto e nos cuidados iniciais com o bebê. Estudos mostram que a presença de uma doula aumenta a satisfação com o parto e a chance de parto vaginal espontâneo, sem necessidade de instrumentos ou até mesmo a cesárea. “A doula só ajuda durante o trabalho de parto. Deixa a mulher mais confiante e segura e a incentiva a passar pelo processo do parto, que pode ser longo e dolorido”, relata a obstetra Roxana Knobel.

Doula há dois anos, Cristina Melo se dedica exclusivamente aos partos. Formada no Grupo de Apoio a Maternidade Ativa (GAMA), de São Paulo, também é técnica em enfermagem e já acompanhou cerca de 80 partos. “É incrível. Você cria um vínculo, se torna quase da família e acaba conhecendo os medos e desejos da gestante melhor do que ninguém. Na hora do parto você sente que precisa fazer tudo o que está ao seu alcance para que a mulher tenha a experiência que tanto deseja. Ver esses sonhos se tornando realidade e poder estar presente nesses momentos é um privilégio”, afirma Cristina.

Privilégio para Cristina e segurança para Stacy, que teve sua gestação acompanhada pela doula. “Antes mesmo de o Heitor nascer ela estava sempre à disposição para tirar dúvidas, orientar. Conversávamos muito em nossos encontros e isso formou um elo de confiança. Quando chegou a hora eu estava tranquila. Ela ajudou inclusive o meu marido. Fez com que ele perdesse o medo de participar ativamente, o que tornou o momento maravilhoso”, lembra.

A doula Cristina, a mamãe Caroline e o papai Bruno, o primeiro a segurar Kaila.
Fotos: Carol Dias. 
Caroline, que também teve Cristina como sua doula, é só elogios. “É a voz quando a mulher precisa ouvir, é a mão que conforta. Com certeza meu parto não teria todo o sucesso que teve se eu não tivesse ao meu lado uma doula”.

Os benefícios de ter uma doula

Estudos mostram que ter uma doula pode:

·         Diminuir em 50% as taxas de cesárea
·         Diminuir em 20% a duração do trabalho de parto
·         Diminuir em 60% os pedidos de anestesia
·         Diminuir em 40% o uso da oxitocina (hormônio geralmente utilizado para começar ou acelerar o trabalho de parto)
·         Diminuir em 40% o uso de fórceps.

*Texto: Elizangela De Bona.
*Fotos: Arquivo pessoal e Carol Dias.
*Com informações dos sites Doulas e Parto pelo mundo.
*Matéria publicada em novembro de 2012, na revista Meu SUL.
*Algumas informações podem estar desatualizadas.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Qual o segredo do corpo perfeito?

Especialistas explicam o que fazer para ganhar massa e definir a musculatura.

Ter um corpo definido é o que muita gente quer, mas para conquistá-lo é preciso suar a camisa, literalmente. Outro fator importante é a alimentação. Sendo assim, o primeiro passo na busca pelo corpo definido é procurar um profissional da área da nutrição, que vai verificar a composição corporal e os parâmetros bioquímicos a fim de elaborar um projeto que deverá ser seguido. 

Maiara Berndt Karkle, nutricionista
Foto: Elizangela De Bona Laurindo/Meu SUL
“Na consulta nutricional são realizados vários questionamentos para colher alguns dados clínicos, antropométricos e bioquímicos. Já na avaliação física (dados antropométricos), verificamos a composição corporal, a porcentagem de gordura, a quantidade de massa muscular e lipídica, verificando a existência de peso em excesso. Associando os dados clínicos e antropométricos com os resultados dos dados bioquímicos, identificamos o estado de saúde e traçamos as etapas para poder chegar no objetivo”, explica a nutricionista Maiara Berndt Karkle, especialista em nutrição esportiva. 

Em relação a alimentação, os interessados em definição muscular devem priorizar o consumo de proteínas, encontradas nas carnes, especialmente as magras, em claras de ovos e no leite e seus derivados, de carboidratos, gorduras, vitaminas, minerais e água. Em alguns casos, a suplementação é indicada para complementar a dieta com calorias e nutrientes. Todos esses itens contribuem com a  recuperação das fibras que aumentam a massa muscular e são rompidas durante o exercício físico. 

Mas, como já dito antes, é preciso também suar a camisa. Segundo o educador físico Ramon Vitório, a prática de exercícios físicos é fundamental. “A união entre a alimentação e o exercício otimiza os resultados, tanto para a definição e o aumento da massa muscular como também para o emagrecimento”. 

Ramon Vitório, educador físico.
Foto: Elizangela De Bona Laurindo/Meu SUL
Vale ressaltar que  as necessidades nutricionais, as características biológicas e a cultura alimentar são características específicas de cada indivíduo, por isso é importante ter sempre o acompanhamento de um especialista da área. É importante salientar também que, a intensidade das atividades físicas varia de acordo com o objetivo e as características de cada pessoa e que, mais do que um corpo perfeito, a definição muscular resulta em qualidade de vida e saúde.

Os benefícios do aumento de massa muscular

De acordo com o educador físico Ramon Vitório, o aumento de massa muscular no corpo contribui de diversas maneiras com o funcionamento do organismo.
·         Acelera o metabolismo
·          Diminui a gordura corporal
·          Combate a perda de massa e força na musculatura
·          Melhora os índices de colesterol e triglicerídeos
·          Controla a hipertensão
·          Auxilia o sistema cardiovascular
·          Contribui com o condicionamento físico
·          Protege as articulações e os tendões
·          Melhora a auto-estima e algumas questões hormonais
·          Colabora com a estética corporal
·          Previne e combate a diabetes
·         Auxilia na prevenção contra osteoporose
·          Fortalece a musculatura
·          Ajuda a prevenir contra doenças cardiorrespiratórias
·         Melhora o sistema imunológico, o humor e aspectos cognitivos

Matéria publicada em dezembro de 2014, na revista Meu SUL. 

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Como lidar com a dor da perda?

“A morte não espera e nem quer negociar. Não obedece ao tempo e muito menos à consciência. Aparece quando menos esperamos e derrota toda a nossa esperança e fé na vida”. As palavras são da psicóloga Viviane Sampaio. Mas, afinal, como lidar com a dor da perda? A fim de trazer a tona este tema, inevitável na vida de qualquer pessoa, a revista Meu Sul entrevistou a psicóloga Denise Delpizzo, especialista em psicoterapia de perdas e luto, que falou, entre outras coisas, sobre como lidar com este momento tão difícil.

Denise, como lidar com a dor?

Denise Delpizzo
Foto: arquivo pessoal
“A dor da perda é algo quase sempre devastadora na vida de uma pessoa. Perder a quem se ama não é fácil, e elaborar esta dor é uma tarefa psíquica com a qual o enlutado tem de lidar para o devido enfrentamento do luto e continuação de sua própria vida. É preciso que se entenda que o luto não é uma doença e tampouco é um conjunto de sintomas. O luto é uma reação normal ao rompimento de um vínculo, ele é um processo psicológico, adaptativo, de caráter singular, cada indivíduo o sofre da sua maneira. Mas ao mesmo tempo é social, pois se vive em meio aos outros. Este processo envolve reações de ordem emocional, física, intelectual, espiritual e social. E em meio a todas estas reações, o enlutado precisa cumprir algumas “tarefas psíquicas específicas” para que o processo de luto se desenvolva de modo normal. Estas tarefas se constituem inicialmente da aceitação da realidade da perda e da consequente elaboração da dor da perda; assim, buscando adaptação e ajustamento a um ambiente novo e a internalização e ressignificação da relação perdida. E por fim, cumprindo a última tarefa de adaptação e continuação da vida. Não é sem dor que este processo se desenvolve, há muitos sentimentos e emoções envolvidas e estes persistem ao longo de todo o processo de adaptação a esta nova realidade: a vida sem o ser amado. A evolução deste processo de luto vai depender em parte dos fatores de proteção que o enlutado tem a seu dispor e de suas competências psicossociais para lidar com a perda.

Então existem etapas a serem superadas?

“Sim, o processo de luto pode ser entendido como um processo de fases, não exatamente linear, que se desenvolve de forma normal ou pode se tornar um luto complicado, quando não evolui em todas as suas etapas. Estas etapas são: 1) entorpecimento:  é uma reação de defesa contra o impacto da perda, como um estado de “choque”. Há, inconscientemente, uma descrença na perda da pessoa querida, como se a perda não fosse real. Por vezes, isso transparece de forma explícita no comportamento do enlutado que tende a agir como se não houvesse o evento da perda. 2) anseio: nesta fase, aparecem tentativas de recuperar a pessoa perdida, seja através de sonhos, alucinações visuais, auditivas e até alucinações táteis (sensação de presença). Isso tudo acontece na ânsia de encontrar o seu ente querido que se perdeu. É uma fase de grande inquietação e hipervigilância, e que pode trazer explosões de raiva pelo resultado frustrado desta busca. Além da frustração, o enlutado acaba por entrar em grande stress e fadiga, pela busca tensa e obsessiva que estabelece, causando real esgotamento do indivíduo. 3)desespero: esta é a fase em que o enlutado reconhece a irreversibilidade da perda e percebe, de fato, que terá que obrigatoriamente aceitar e enfrentar as mudanças em sua vida, seu cotidiano, sua família, etc. É pura “desesperança”, o momento em que ele se dá conta de que nada pode ser salvo. Nesta fase, os sentimentos predominantes são de desmotivação, desvitalização, apatia, depressão, isolamento social. 4)Reorganização: nesta fase, há uma mescla de episódios depressivos com sentimentos mais positivos, quando o enlutado começa a demonstrar a capacidade de adquirir novas habilidades e assumir novos papéis perante esta nova realidade de vida. Há também o estabelecimento de uma nova relação com o falecido, através da redefinição de si mesmo e da sua vida”.

Chorar ajuda?

“O ato de chorar é o ato de expor seus sentimentos e emoções advindos da situação de perda. Isso é positivo na medida que dá vazão ao sofrimento intenso que se sente durante o processo de luto. Chorar, falar o que está sentindo, falar sobre a pessoa falecida, falar sobre o sentimento de impotência diante da morte, sobre a saudade, tudo isso auxilia na elaboração da perda. Porém, é preciso entender que assim como há momentos de chorar, há momentos de enfrentar, e eles se intercalam constantemente durante o processo de luto. No início do luto há maior intensidade de momentos de lamento e menor intensidade de enfrentamento e recuperação. Ao longo do processo, essa intensidades vão se alterando, até chegar ao ponto em que há maior intensidade dos momentos de enfrentamento e menor intensidade dos momentos de lamento. Como já disse, é um processo, e um processo de alternâncias, então, não linear”.

Como as pessoas ao redor podem ajudar no processo?

“Muitas vezes, as pessoas, ao quererem ajudar e confortar, acabam por aumentar ainda mais o sofrimento do enlutado. Posso explicar: dizer as tais “frases prontas”, falar para o enlutado que ele deve ter forças, ou que o ser querido está em um lugar melhor do que aqui, ou que o ser querido não ia gostar de vê-lo sofrendo, só aumentará a distância entre você e o enlutado, pois o enlutado pode se sentir “desautorizado” a sofrer sua perda. Além de que você não estará conseguindo agir com empatia. Neste momento, “colocar-se no lugar do outro” é o melhor caminho para ajudar o enlutado. As palavras ditas devem ser de apoio emocional, dar um abraço, colocar-se à disposição para cuidar das crianças da família, levar uma refeição pronta para a família, ajudar com alguma coisa efetivamente. Não se afastar, mas também não ser invasivo no sofrimento do enlutado. O correto é dar espaço e “escuta” para o enlutado falar de seus sentimentos, compartilhar a dor da perda em silêncio, amparar...”

Quanto a medicar uma pessoa que sofreu uma perda, qual a sua opinião?

“Não se trata de pensar a medicação como boa ou ruim, mas a que ela serve neste processo de luto. Se a medicação servir para abstrair o enlutado de sua realidade atual, tirando dele a consciência do enfrentamento do luto, certamente ela não será uma facilitadora do desenrolar do processo de luto. Mas se a medicação se prestar a ser um adjuvante no processo de luto, se ela for uma “ferramenta terapêutica” a ser utilizada junto ao suporte psicoterapêutico, aí sim ela estará à serviço da busca da capacidade de enfrentamento e reestruturação do enlutado”.

Qual a sua recomendação para quem sofreu uma grande perda?

“Penso que o mais importante é entender que o que se busca no luto não é uma superação da dor, mas uma reconstrução da vida, onde o ser amado que partiu, volte a estar presente em uma nova estruturação psíquica para o enlutado. É o processo em que o falecido deixa de ser o que era (real), e passa a ser um significado vital. Esta árdua “tarefa” de ressignificar  a pessoa perdida, deve, sempre que possível, contar com fatores de proteção, como: suporte social, da família, dos amigos, de grupos, e a comunidade em geral; apoio espiritual, independente de religião específica; suporte psicológico, como o apoio terapêutico e grupos de entreajuda; entre outros. E importante ainda entender que este processo não se dá instantaneamente, é um processo longo, que demanda energia e quanto mais suporte e apoio o enlutado tiver, maiores possibilidades de reconstruir sua vida”.

A psicoterapia de perdas e luto

Também conhecida como lutoterapia, a formação habilita ao apoio psicológico e aconselhamento em casos envolvendo situações de perda/luto. O suporte oferecido por esta psicoterapia específica trabalha no sentido de ajudar a elaborar o momento de crise desencadeado pela notícia de uma perda, que vai muito além da morte. “Uma doença grave é uma perda, uma amputação é uma perda, um aborto é uma perda, e assim, outras situações que desencadeiam um processo de luto em que as pessoas têm que lidar com a tristeza, depressão, stress, dor e outras emoções”, explica Denise.

Entrevista publicada em dezembro de 2014, na revista Meu SUL.


sexta-feira, 8 de maio de 2015

A nova vida de Diego Mateus

Jovem fala sobre o acidente que mudou sua vida, da volta por cima e de seus objetivos

Foto: Diego Mateus/Facebook
Diego Mateus, 27 anos, era, assim como muitos outros jovens, um apaixonado por futebol. Praticava o esporte quase todos os dias e trabalhava para iniciar o curso de Educação Física. Porém, tudo mudou na vida do jovem no dia 25 de setembro de 2005. Neste dia, ao sair de uma festa, Diego sentou-se na garupa da moto de um amigo, que, sem aviso prévio, arrancou e empinou a moto. Totalmente distraído, o jovem caiu de ponta cabeça. Três vértebras da coluna cervical foram quebradas e acabaram comprimindo a medula de Diego, que perdeu todos os movimentos do corpo do pescoço para baixo. “Quando acordei no hospital, depois de 15 dias, achei que estivesse tendo um pesadelo”, lembra.

Após passar por uma cirurgia para a descompressão da medula e fixação das vértebras, o jovem ainda teve infecção no pulmão esquerdo. Foram três meses respirando com a ajuda de aparelhos, entre a vida e a morte na Unidade de Terapia Intensiva. “Durante três meses fiquei na mesma posição, não conseguia falar por causa da traqueostomia e só me alimentava através da sonda, colocada pelo nariz. Não tinha noção de tempo e quase não dormia. Meu único conforto era Deus e a minha família”, relata.

Três meses depois, quando teve uma pequena melhora, o jovem saiu da UTI, mas ficou no hospital por mais três meses. Só depois desse período é que voltou para casa. “Posso dizer que tive três vidas. Uma antes do acidente, outra durante os seis meses no hospital e outra depois que sai do hospital”.

A mobilização
 
Foto: Diego Mateus/Facebook
Disposto a lutar e com o auxílio de um mouse adaptado, o jovem decidiu iniciar, em janeiro de 2014, uma campanha via Facebook, a fim de conseguir arrecadar dinheiro para fazer uma cirurgia de autoenxerto de células estaminais da mucosa olfativa, para recuperar movimentos, realizada em Portugal.   Denominada Supera Diego, a campanha surtiu efeito e a ajuda de que o jovem precisava começou a surgir. Em três meses de campanha e três dias antes de realizar a cirurgia, Diego conseguiu arrecadar os R$ 115 mil necessários. Pela determinação, o jovem ganhou do médico um desconto de R$ 5 mil, que, de acordo com o jovem, foram usados para o pagamento dos primeiros dias de fisioterapia. “Agradeço imensamente todas as pessoas que me ajudaram”.

A nova vida

De acordo com Diego, quando se está na situação em que ele se encontra, qualquer movimento que se recupera é como se fosse a conquista de uma Copa do Mundo, e, por isso, a luta continua. “A fisioterapia é fundamental agora e, por isso, faço quatro horas de fisioterapia por dia”, comenta. Segundo Diego, somente depois de três anos, aproximadamente, é que os resultados da cirurgia poderão ser avaliados. “Isso não me impede de viver todos os dias intensamente”, afirma.

Na nova fase de sua vida, Diego conta com uma ajuda pra lá de especial, a de sua esposa, Cida. “Conheci ela no início da campanha. Ela sonhou comigo, me adicionou no Facebook e veio me contar. A partir de então começamos a nos falar todos os dias. Foi tudo muito lindo. Ainda é. A cada dia que passa temos mais certeza de que fomos feitos um para o outro. Agradeço a Deus sempre por me dar alguém tão especial, com que posso dividir minha vida”.

Ministrando palestras, Diego fala de superação

De acordo com Diego, motivar as pessoas por meio de sua história é o objetivo das palestras que vem ministrando. “Entrei em um mundo totalmente diferente do que eu estava acostumado e me mergulhar nesse mundo me trouxe muita experiência de vida. Sei que essa experiência vai motivar as pessoas a levar uma vida mais intensa e a enfrentar os desafios”, explica.

Conforme Diego, a experiência de palestrar tem sido bastante positiva. “Uma das coisas que mais quero é ajudar as pessoas e as palestras estão me dando essa oportunidade. Ver as pessoas vindo até mim e me agradecendo, dizendo que minha história ajudou elas de alguma forma tem sido muito gratificante”.

Foto: Diego Mateus/Facebook

Apesar dos percalços, felicidade

“Depois do acidente que me deixou tetraplégico as pessoas falavam que eu iria ser um peso para meus pais, que eu não teria uma vida feliz e construtiva. Hoje estou casado, feliz e usando esse ‘fardo’ para ajudar as pessoas. Nada mal para quem seria um peso”, comenta. “Nunca deixei alguém te desanimar dizendo, por exemplo, que você não é capaz; Ninguém é perfeito, todos temos defeitos, assim como muitas qualidades. A minha ‘limitação’ nunca me limitou a nada, o que nos limita é a nossa mente. Acredite mais em você, nos seus valores, pois é isso que vai fazer a diferença na sua vida. Sua cabeça é seu guia”, completa.


Como ajudar

De acordo com Diego, o tratamento da lesão medular é longo e tem um custo bastante elevado, por isso, toda ajuda é bem-vinda. Quer ajudar? Faça um depósito em nome de Diego Mateus, na Caixa Econômica Federal, agência 3850, operação 013, conta 1017-2, ou entre em contato pelo telefone, através do número 9995 – 9265.


Matéria publicada em janeiro de 2015, no jornal Cidade Notícias. 

terça-feira, 5 de maio de 2015

Pequena guerreira

Elizangela De Bona

Com apenas um ano e dois meses, Isabelly já passou por mais de 10 internações. O valor das consultas com especialistas e dos medicamentos ultrapassa a renda da família, por isso, a pequena conta com a sua solidariedade.

Foto: Ana Maria Schutz Godinho Silva/Cidade Notícias
A pequena Isabelly De Bona Silva tem apenas um ano e dois meses, mas já sabe muito bem o significado da palavra luta. A irmãzinha mais nova do Marcello, de 3 anos, e do Cauã, de 8, filha da Elizangela De Bona e do Anderson Medeiros da Silva, já passou por mais de 10 internações.

De acordo com a mãe da pequena, sua gestação já foi complicada. “Tive que me afastar do trabalho, fiquei encostada a gravidez toda praticamente. Tive descolamento de placenta, anemia e varizes no útero”, comenta. “Quando completei 35 semanas tive uma hemorragia bem forte e a Isa nasceu”, lembra Elizangela.

Assim que nasceu, com 45,5 cm e 2,565 kg, Isabelly foi direto para a UTI neonatal, onde permaneceu por 12 dias no oxigênio. Passado esse período, a menina foi diagnosticada com pneumonia congênita. A pequena só foi para casa com 19 dias. “Ela gritava noite e dia sem parar, e foi assim até os dois meses. Levei em três pediatras diferentes e nada adiantava”, recorda a mãe.

Com dois meses veio a segunda internação e, enfim, um diagnóstico mais preciso: alergia a proteína do leite de vaca. Com o leite da mãe já no fim, foi necessária uma fórmula especial de leite, o Pregomin. Foi aí que a situação financeira da família, que já não estava boa, ficou ainda pior. Isabelly consumia 12 latas do leite no mês, e cada lata custava R$ 108.

Aos quatro meses, vieram a terceira e a quarta internação seguidas. “Nessa época ela estacionou no peso. Aos seis meses ainda estava com 5 kg”, comenta Elizangela. Com oito meses, mais quatro internações seguidas em menos de um mês. Foi aí que a menina foi encaminhada a um especialista em imunidade, em Criciúma. Lá, outra doença foi descoberta: a imunodeficiência humoral, que faz com que o organismo da pequena fique com poucas defesas.

Depois disso, Isabelly ainda foi encaminhada para um especialista em pneumonia e, em seguida, para o Hospital Infantil, com suspeita de fibrose cística. “A Isa ficou internada de novo, mais 12 dias. Durante esses dias uma bateria de exames foi feita, onde descobriram que, além do leite e seus derivados, ela reage também a ovo, carne vermelha e corantes. Então indicaram outra fórmula de leite, o Neocate”, explica a mãe. Segundo Elizangela, cada lata do leite custa R$ 190, porém, este ela conseguiu recentemente na justiça.

Um pouco antes de completar um ano, mais uma internação e, recentemente, outra. “É muito dolorido para mim, como mãe, ver ela tão pequena e já passando por toda essa luta. Me sinto impotente e, às vezes, até fracassada como mãe, porque por mais que eu cuide e evite que ela tenha contato com pessoas doentes, ela sempre acaba atraindo algum vírus por causa da baixa imunidade. É difícil também ter que deixar meus outros dois filhos com outras pessoas. Meu coração fica apertado”, lamenta a mãe.

Foto: Ana Maria Schutz Godinho Silva/Cidade Notícias
Redes sociais: um canal solidário

Depois de muita luta e com a situação financeira prejudicada, a mãe, Elizangela De Bona, decidiu contar com a solidariedade das pessoas e divulgou nas redes sociais a situação de sua família. Não demorou muito para começar a receber doações. “Ganhei alguns pacotes de fraldas, leite e roupas”, afirma a mãe.

E é assim, com a ajuda das pessoas, que a família tem conseguido dar continuidade ao tratamento de Isabelly. “Agradeço a todos que já nos ajudaram, especialmente o vereador Jairo Borges e a advogada Ivia Altoff, que conseguiram o leite da minha filha”.

Quer ajudar?

Isabelly e sua família continuam precisando da sua solidariedade. De acordo com a mãe da menina, Elizangela De Bona, a renda da família gira em torno de R$ 1300, enquanto os gastos com exames e medicamentos chegam a, aproximadamente, R$ 1600.

Atualmente, a menina faz acompanhamento com diversos especialistas e a maioria das consultas e exames, assim como os medicamentos necessários para o tratamento, são pagos. “Toda ajuda é bem-vinda. Precisamos de fraldas, leite para os meninos, roupas, frutas, verduras, enfim, de tudo um pouco”, afirma a mãe.

Se você pode e quer ajudar, entre em contato com a mãe, Elizangela De Bona, através do 9697 0518. Você pode ainda fazer um depósito:
Anderson Medeiros da Silva
Bradesco
Agência 6214-6
Conta 1549-0


Matéria publicada em abril de 2015, no jornal Cidade Notícias.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Como cuidar da higiene bucal das crianças?

Como deve ser a escovação? Crianças podem utilizar fio dental? Especialistas respondem estas e outras perguntas.

Engana-se quem pensa que os cuidados com a higiene bucal das crianças só devem começar depois do aparecimento dos primeiros dentinhos.  Para orientar as mamães e papais sobre o tema, a Revista Meu Sul conversou com a ortodontista Lucienne Xerfan de Oliveira e com a cirurgiã dentista Sheila Della Giustina, que falam, entre outras coisas, sobre como os pais devem lidar com o surgimento dos primeiros dentinhos e sobre os cuidados com o sorriso dos pequenos. Confira:

Bebês

Mesmo que ainda não haja dentinhos, é importante fazer a higienização bucal do bebê. Esta deve ser feita sempre depois de cada mamada. Toda a boca deve ser limpa, inclusive a língua. Para fazer a limpeza, o ideal é utilizar gaze e água filtrada ou soro fisiológico.

Os primeiros dentinhos

Ludienne Xerfan de Oliveira
Foto: Elizangela De Bona/Meu SUL
De acordo com a ortodontista Lucienne Xerfan de Oliveira, com o aparecimentos dos primeiros dentes, a criança começa a colocar objetos a boca com mais frequência e tende a ficar irritada, por causa do desconforto provocado pela erupção dos dentinhos. Quando isso acontece a especialista indica o uso de uma pomada já tradicional, a nenê dent. Em alguns casos pode dar febre, e a indicação é de que um antitérmico, prescrito pelo pediatra, seja utilizado.  Em outros casos, mais raros, a gengiva pode ficar espessa e arroxeada. Diante dessa situação, a indicação da ortodontista é que a criança seja levada o quanto antes a um dentista.



Hora de ir ao dentista

A primeira visita ao dentista deve ser feita assim que surgirem os primeiros dentinhos, a fim de que os pais possam ser orientados quanto a higiene bucal do bebê. “Os primeiros acompanhamentos devem ser feitos a cada quatro meses, a menos que o risco de cárie seja alto. Se não for o caso, uma visita a cada seis meses é suficiente”, orienta Lucienne.

A escovação

Segundo a cirurgiã dentista Sheila Della Giustina, a escovação deve ser supervisionada pelos responsáveis até que a criança tenha uma boa coordenação motora e consiga realizar a higienização de forma correta. A escovação deve ser feita, no mínimo, três vezes ao dia, porém, o ideal é que seja feita sempre depois de cada refeição. “É importante que todas as faces do dentes sejam higienizadas", enfatiza.

O creme dental
Sheila Della Giustina
Foto: Elizangela de Bona/Meu SUL

A recomendação das especialistas é de que se use um creme dental fluoretado. Vale ressaltar que o creme só deve ser utilizado após a erupção dos dentinhos. “As crianças que tem costume de engolir o creme dental devem utilizá-lo em pequenas quantidades e sem flúor”, explica Sheila.

A escova

A escova deve ter a “cabeça” pequena para que possa alcançar todos os dentes da boca. Quanto as cerdas, devem ser macias.


Fio dental?

Sim. Quanto mais cedo a criança criar o hábito de usar o fio dental, melhor.

E se cair um dente?

Acidentes podem acontecer, ainda mais com crianças, que tem energia de sobra. Se por algum motivo a criança perder um dente de forma não natural, e se o dente for decíduo – de leite - o ideal é procurar um dentista. “Em algumas situações são utilizados mantenedores de espaço, em outras, é feito somente um acompanhamento do dente permanente que está se formando”, explica Lucienne.

Caso a queda for de um dente permanente, o recomendado é colocar o dente em um recipiente com leite, saliva ou soro fisiológico. E é importante não esfregá-lo. Procurar um dentista o mais rápido possível também é essencial.

Matéria publicada em dezembro de 2014, na revista Meu SUL.